quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

a fantástica história do peru da minha avó


Natal no Brasil tem que ser em família, mesmo que a família seja um quebra-cabeças cheio de peças faltando...


A minha, em particular, deixaria Stuart Hall pensativo, mas essa é uma outra história. Por agora, lembro dos perus de natal que minha avozinha materna fazia... Ela era daquele tipo clássico: rechonchuda, com cara de mãezona que adorava cozinhar. Verdade que nem sempre seus quitutes faziam sucesso, infelizmente... Mas, para o bem-estar de nossas almas, a gente comia cheios de sorrisos, hehe. Certo Natal, ela passou horas preparando um peru brilhoso, lindo por dentro e por fora, parecia saído das novelas do Maneco. Colocou uns abacaxis caramelados ao redor, umas cerejas suculentas e um molho transparente, que me faziam lamber meus beicinhos ingênuos de pré-adolescente. Uma farofa de ovo para acompanhar e, claro, um espumante vindo diretamente do Sul, escolhido pelo meu pai.


Na hora da ceia, tios e primos sentados ao redor da matriarca fitavam aquele peru sarado... Lembro que eu coloquei umas colheres de farofa na lateral esquerda prato, deixando um espaço especial para o protagonista da noite. Todo mundo deve ter feito o mesmo. Meu pai - o gaúcho da família - cortou com cuidado belos pedaços do peito do peru e distribuiu a todos. Minha avó era só sorrisos, orgulhosa daquela obra de arte natalina.


Agora, um baita dedaço de peru me olhava serelepe no prato. Eu cortei o primeiro pedaço e assentei-o de leve na farofa. Hora da primeira mordida. Quando minhas papilas gustativas sentiram a textura do peru - oh céus! - eu quase vomitei!!! O peru estava doce!!!! Muito mais doce que o pavê que nos esperava na sobremesa. Minha avó pegou uma receita contemporânea, disse ela, de mel de engenho e cobriu o peru inteiro de açúcar!!!!


Hoje sei que a receita era experimental demais para gostos tradicionais como eram os nossos. Mas na época o que se viu foi uma tragédia: o coitado do peru foi abandonado à própria sorte. Nem minha avó aguentou... Eu devorei a farofa e todos os demais complementos, e depois devorei o pavê e passei a noite muito bem. Mas o belo peru, tadinho, foi para o céu sem conhecer nossos estômagos. E eu até hoje não posso nem ver um molho transparente...

5 comentários:

@marceloHML disse...

ecati!


tem partes que poderiam ter saído de um livro da grande auora de best-sellers: Syang! =D

Unknown disse...

Nane, só tu mesmo pra lembrar destas coisas...
rsrsrs!!!Querida, desejo a ti e teu esposo um ótimo ano e que deus ilumine sempre seus passos,ta?

Grande bjo do sempre amigo, Adson.

Ari Holzbach disse...

Adson,
vc sabe que minha memória (e meu apetite...rs!) é de elefante!!!
Beijo e ótimo fim de ano tb; pros dois, claro!!!

Michel Rhapsody disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ari Holzbach disse...

Mic,
acho que vc não degustou mesmo... Você sempre fugiu dos pratos diferentes...