sábado, 29 de dezembro de 2007

o frango xadrez milagroso

No início de 2005, os ventos do sul me levaram do Nordeste para o Sudeste, e aterrissei no Rio de Janeiro. Embora a Cidade Maravilhosa tenha mesmo um milhão de atrativos, em poucas semanas me vi mergulhada em uma depressão de fazer até ladrão ter pena. Minhas manhãs eram regadas a Club Social e Ana Maria Braga... Uma tristeza...

Na verdade, Ana Maria Braga era das poucas pessoas que me acalentavam a alma, pois sempre gostei de assistir a programas de culinária. Até hoje adoro acompanhar a elaboração de pratos, rir das dificuldades de se cozinhar ao vivo, no meio de dezenas de câmeras, microfones e fios passando por todos os lados. Ofélia decididamente foi uma Diva, pois cometia barbaridades na cozinha televisiva com a maior elegância!!!

Mas voltando à depressão, um belo dia minha biografia começou a mudar. Ana Maria Braga estava fazendo um frango xadrez e eu acompanhei todos os passos com a maior atenção. Quando as explicações terminaram, assisti ao Louro José comendo aquela iguaria que parecia vinda do Olimpo com o maior gosto, e decidi fazer o prato. Comprei um bom molho shoyu, gastei uma fortuna com pimentões coloridos, imprimi a receita e me enchi de coragem. Passei uma bela manhã de domingo em frente a um fogão Brastemp.

Quando o frango estava ficando pronto, encarei aquele molho que engrossava feliz embalado pelas chamas, e um sorriso beliscou meus lábios. Ele estava ficando cheiroso - e lindo!!! Junto com arroz branco, já que o complemento não deve ofuscar o prato principal, eu e meu amado demos vida aos talheres. No final, o frango inteiro virou proteína...
Aquele foi o primeiro dia de um prato que está ficando famoso...rs! E o primeiro dia também que senti a depressão se preparar para me abandonar. A receita do tal frango milagroso ainda está no site do Mais Você. Tomara que ele continue fazendo milagres...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

deus, tô chegando!!!


Não consigo entender direito por que algumas pessoas gastam fortunas tomando vinhos raros... Sempre penso que este é um prazer efêmero demais para se gastar tanto, além de exigir um trabalho de manutenção inacreditável. A gente não pode guardá-lo depois de aberto pois ele perde parte das propriedades; não pode tomá-lo em copo de plástico, por exemplo, porque o material "contamina" o líquido; não pode beber muito rápido, pois é preciso sentir todos os seus aromas; não pode mexer muito a garrafa, especialmente se for um reserva; não pode misturá-lo com nada, pois seria sacrilégio; não pode falar mal dos clássicos, pois parece ignorância... Como um prazer pode dar tanto trabalho???

Tudo bem, não posso negar que adooro um bom vinho, especialmente os tintos secos. Na minha longíqua adolescência, costumava tomar aqueles doces, categorizados por mim como "deus, tô chegando", huahua! Não sei como meu estômago aguentava... Na verdade, ele não aguentava, mas sobre isso falo outro dia.

Aliás, sobre vinhos em geral pretendo falar algumas vezes mais. Hoje vou apenas apresentar um legítimo representante da raça (!) brasileira, embora seja pouco conhecido na maior parte do país. O Lote 43, da Miolo, é considerado o melhor vinho do país por vários críticos, e nem é o mais caro. Normalmente ele é produzido a partir de duas uvas: cabernet sauvignon e merlot. Ah... pense num vinho delicioso! A tiragem dele é sempre limitada a algumas mil garrafas, mas não é difícil encontrar em sites e revendedores. Eu recomendo.






quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

a fantástica história do peru da minha avó


Natal no Brasil tem que ser em família, mesmo que a família seja um quebra-cabeças cheio de peças faltando...


A minha, em particular, deixaria Stuart Hall pensativo, mas essa é uma outra história. Por agora, lembro dos perus de natal que minha avozinha materna fazia... Ela era daquele tipo clássico: rechonchuda, com cara de mãezona que adorava cozinhar. Verdade que nem sempre seus quitutes faziam sucesso, infelizmente... Mas, para o bem-estar de nossas almas, a gente comia cheios de sorrisos, hehe. Certo Natal, ela passou horas preparando um peru brilhoso, lindo por dentro e por fora, parecia saído das novelas do Maneco. Colocou uns abacaxis caramelados ao redor, umas cerejas suculentas e um molho transparente, que me faziam lamber meus beicinhos ingênuos de pré-adolescente. Uma farofa de ovo para acompanhar e, claro, um espumante vindo diretamente do Sul, escolhido pelo meu pai.


Na hora da ceia, tios e primos sentados ao redor da matriarca fitavam aquele peru sarado... Lembro que eu coloquei umas colheres de farofa na lateral esquerda prato, deixando um espaço especial para o protagonista da noite. Todo mundo deve ter feito o mesmo. Meu pai - o gaúcho da família - cortou com cuidado belos pedaços do peito do peru e distribuiu a todos. Minha avó era só sorrisos, orgulhosa daquela obra de arte natalina.


Agora, um baita dedaço de peru me olhava serelepe no prato. Eu cortei o primeiro pedaço e assentei-o de leve na farofa. Hora da primeira mordida. Quando minhas papilas gustativas sentiram a textura do peru - oh céus! - eu quase vomitei!!! O peru estava doce!!!! Muito mais doce que o pavê que nos esperava na sobremesa. Minha avó pegou uma receita contemporânea, disse ela, de mel de engenho e cobriu o peru inteiro de açúcar!!!!


Hoje sei que a receita era experimental demais para gostos tradicionais como eram os nossos. Mas na época o que se viu foi uma tragédia: o coitado do peru foi abandonado à própria sorte. Nem minha avó aguentou... Eu devorei a farofa e todos os demais complementos, e depois devorei o pavê e passei a noite muito bem. Mas o belo peru, tadinho, foi para o céu sem conhecer nossos estômagos. E eu até hoje não posso nem ver um molho transparente...

gastronomia com arquitetura - parte I

Sei que um blog de gastronomia é coisa para gulosos, e que a gula é o quinto dos sete pecados, e que pecados levam ao inferno, e que no inferno não há lugar para gulosos etc., etc., etc. Mas como encaro a gula como uma virtude, resolvi desconstruir as teses católicas e criar este delicioso espaço. Já devia ter começado, pois a arte gastronômica me persegue há anos. Garanto que não foi um problema de falta de apetite... rs! Foi falta de criatividade mesmo.

Pra começar, vou falar não exatamente de comida, mas de arquitetura. Tudo começou no último dia 15, quando eu e meu amado resolvemos comemorar o aniversário dele e nossos 3 anos de convivência sobre o mesmo teto. A Veja Rio dizia que o Terzetto tem uma excelente carta de vinhos.

(não acredito muito na Veja Rio, mas vinhos são vinhos, né?)

O restaurante é uma graça, apesar de superlotado. A carta de vinhos é realmente incrível: não sabia se contemplava um exemplar do Houaiss ou uma listinha de bebidas, hehe. O atendimento é ótimo... As sobremeas são miúdas e nada doces no preço...

Mas o que achei mais legal é que logo que entramos no local, um senhor simpático, de terno preto, fitava compenetrado os amigos ao redor. Era Oscar Niemeyer (!!!!) que no alto dos seus 100 anos apreciava uma boa cantina italiana!